domingo, 5 de outubro de 2014

Visita à escola de ensino fundamental - Visit to Seminaarin Koulu


Esse é um post longo, mas descreve, do meu ponto de vista, onde está o sucesso da educação finlandesa. Antes de vir para cá, eu já pensava que a chave está na educação básica e, para mim, a visita a uma escola do ensino fundamental só confirma isso. Nota: por razões de privacidade, escolhi fotos que não mostram os rostos das crianças.

No dia 30 de setembro, visitamos Seminaarin Koulu - em tradução livre, Escola do Seminário, em Hämeenlinna. Esclareço que não é uma escola religiosa, só está localizada onde havia um Seminário.
É uma escola de ensino fundamental, com turmas do 1. ao 6. anos. A educação é pública e gratuita (sustentada pelos impostos), como em todos os outros níveis educacionais na Finlândia. O município é o responsável pela administração escolar. Os alunos não usam uniforme e os livros, materiais e refeições são fornecidos pela escola.

Visão geral externa

A escola tem um amplo pátio, com muito espaço para as crianças. Por ter acompanhado o início e final das aulas, já que meu filho está estudando no 2. ano, posso dizer que as crianças brincam bastante, de forma tranquila e normal para a idade. Na saída da escola, não se vê aquela correria desenfreada.

Lembro que a escola não tem muros e os brinquedos e quadra estão disponíveis depois das aulas e nos fins de semana.

Grande parte das crianças vem de bicicleta ou a pé. A maioria mora em um raio de 2 km da escola. Segundo o diretor, tem sido feita uma campanha para que os pais não levem os filhos de carro, nem no inverno. Durante a visita, perguntei se havia alguma temperatura que obrigava ao cancelamento das aulas. Resposta direta: não. Há aula mesmo no inverno mais rigoroso. Segundo ele, como a Finlândia não é assolada por furacões ou coisas do tipo, enfrentar temperaturas de -10 graus Celsius é uma questão de se vestir corretamente.

Visão geral interna

Essa é uma escola bastante grande. De modo geral, percebe-se tudo organizado e limpo. Ao chegar à escola, as crianças tiram seus sapatos e casacos, como mostra a foto seguinte.

Na parte central de um dos prédios, há um espaço de socialização comum às turmas.

Naquele dia, visitamos duas turmas: uma do 1. ano e outra do 6, ou seja, início e fim do processo.
Todas as salas tem lousa digital, mas isso deve ser visto como uma parte de um todo que é organizado e funcional. A lousa isolada não faz milagre. Na turma do 1. ano, as crianças estavam usando tablets, com a professora principal e um professor auxiliar de computação. São 12 tablets para a escola toda, então há uma organização de escala para uso. De novo, quero reforçar que não é um equipamento isolado que faz a diferença.
Em alguns momentos, a turma está toda reunida e em outros, é dividida em grupos. Pelo que entendi, a divisão em grupos menores serve para trabalhar de forma mais individualizada com os alunos, no tempo de cada um. Segundo a professora, como é fácil ler em finlandês (é que há uma correspondência única entre as letras e os fonemas, diferente do português ou inglês), ao final do 1. ano, praticamente todos estão lendo.


Como meu filho estuda lá, em um outro dia que visitei sozinho a turma dele, havia um trabalho integrado de música entre os alunos do 6. e do 2. ano. Os mais velhos são "tutores" dos mais novos. Novamente havia duas professoras na sala, a principal e a de música, ao piano.

Na turma do 6. ano, também dois professores, pois estavam usando computadores para fazer uma atividade. Observe a flexibilidade oferecida pelo mobiliário. Diferentes configurações para trabalho em grupo ou individual podem ser arranjadas facilmente.
Nessa sala de aula, há um órgão de tubos, que ainda funciona, herança do seminário.
Perguntei ao professor se havia alguma preparação dos alunos para a próxima escola, a partir do 7. ano. Eles fazem algumas visitas, conhecem a nova escola, professores, se inteiram sobre o ambiente que os acolherá no próximo ano.

E para fechar a parte interna geral, uma foto da sala dos professores, um ambiente agradável, promovendo a socialização nos momentos de intervalo.

Refeitório

Todos os dias, as crianças almoçam na escola. Cada uma se serve sozinha e depois de almoçar, devolve seu prato, talheres, copo e bandeja no local adequado.
Refeitório no início da manhã
No dia de nossa visita, havia uma sopa de ervilhas e carne. É comum na Finlândia acompanhar as refeições com leite e pão. Na entrada do refeitório, há o cardápio escrito em finlandês e um exemplo real do mesmo.
Cardápio e prato exemplo.


Aulas técnicas (têxtil e marcenaria)

A partir do 3. ano (isso mesmo, a partir de 9 anos de idade, mais ou menos), as crianças tem 2 horas semanais de aulas de atividades técnicas (costura e afins ou marcenaria). No passado, havia uma certa divisão por sexo, mas atualmente a escolha da atividade, por parte dos alunos, é mais igualitária.

Sala para atividades têxteis
No momento de nossa visita, uma turma estava fazendo uma atividade de tingimento. Segundo a professora, nessa atividade aproveitam para discutir vários temas, como as cores da natureza.
Turma em atividade de tingimento de tecido. O trabalho em tecido com motivo de trens foi feito por alunos da escola

Esse não é aluno da escola, mas nosso colega Carlos posando para foto em uma máquina de costura.

Trabalhos em tecido, realizados por alunos, em exposição em um corredor da escola.


Visitamos também a marcenaria, mostrada a seguir. Além das bancadas das fotos, há máquinas pesadas em uma outra sala que os alunos não tem acesso por questões de segurança.






Turmas de imigrantes

Conversamos com uma professora que atende uma turma de imigrantes. O objetivo nessa classe é acelerar o aprendizado da língua finlandesa, de modo que em um ou dois anos, os alunos já consigam acompanhar as aulas em uma turma regular. Naquela turma havia 5 alunos, de nacionalidades diversas (bandeiras na foto).

Turmas para alunos com necessidades específicas

Há um trabalho bastante intenso com os alunos com necessidades específicas, tendo professores especializados no tema. No momento de minha visita, os alunos estavam almoçando, mas pode haver até 6 professores na mesma sala, trabalhando de forma individualizada com cada aluno.
Conheci o ambiente para alunos com altas habilidades. Atualmente, a escola atende 12 crianças, oferecendo um ambiente bastante agradável, com microscópios, impressoras 3D e outros materiais.



Participação dos pais

Pela opinião do diretor e professores que conversamos, não há muita participação dos pais no dia-a-dia da escola. Isso pode ser interpretado como desinteresse, mas acredito que, como tudo na Finlândia, é mais uma relação de confiança (trust): simplesmente se confia no trabalho da escola e pronto.

Organização geral

A escola atende aproximadamente 700 alunos. As aulas começam às 8h30 e terminam entre 12h15 e 15h15, dependendo das atividades a serem desenvolvidas. Mas pelo que entendi, esse horário de 15h15 é um teto, dificilmente as crianças ficam até o meio da tarde na escola. Ou seja, não há período integral aqui. Ainda sobre a organização do calendário, no ano escolar 2014/2015:
  • no primeiro semestre, outono, as aulas começaram em 01/08 e vão até 20/12
  • de 15 a 17/10, há uma pausa de outono
  • de 21/12 a 06/01/15, há férias de final de ano
  • o segundo semestre, primavera, vai de 07/01/15 até 30/05
  • de 23/02 a 01/03, há uma pausa de inverno
  • mais três feriados nacionais
Total: 188 dias de aula

O orçamento anual da escola é de 5 milhões de euros. Com esse valor, a direção paga a manutenção da escola, o fornecimento das refeições e os salários dos professores e demais funcionários. Pelas minhas contas, isso daria 600 euros/aluno/mês.

Apresentação do diretor da escola
Para se tornar diretor, o candidato deve ter passado pelo curso padrão para professores e também por uma capacitação em gestão. A prefeitura abre um processo seletivo e os candidatos se inscrevem. Após uma bateria de entrevistas, um é escolhido. Não há mandato fixo; enquanto o trabalho for de qualidade, o diretor se mantém no cargo.

A estrutura da escola é enxuta, mesmo com todo o atendimento personalizado que é efetuado.

E para fechar, um vídeo institucional. Eu já aprendi a confiar nesse pessoal daqui e sei que é tudo real, não há maquiagem nem montagem.


English


This is a long post, but, from my point of view, it sheds some light about the success of Finnish education. Before taking part in this program, I've already thought that the key is in basic education. For me, this visit to an elementary school helps to confirm my opinion. Notice: for privacy reasons, I chose photos that don't show children faces.

On Sept 30, we visited Seminaarin Koulu, in Hämeenlinna. This is not a religious school, the name is related to the fact that some time ago there was a seminary.
It is a elementary school, from 1st to 6th grades. Education is public and free (paid by taxes), as in all other educational levels in Finland. The municipality is responsible by this school. Students do not wear uniform. Books, learning materials, and meals are offered by the school.

Outside - General view

The school has a large courtyard. Children play a lot there.

There are no walls in the school, so everybody can play there during weekends and after school.

Most of the children go to the school by bike or by foot. Most of them live in a radius of 2 km far from school. According to the director, they have campaigned for no car transportation, even during winter. I asked whether some temperature could lead to cancellation of classes. Answer: no. According to him, since Finland has no hurricane or some event like that, going to class is only a matter of adequate clothing.

Inside - general view

For Finnish standards, this is a big school. One can notice the organization and cleanness. There is a space to leave coats and shoes.

In the central area of one the building, there is a space for collective use.

Naquele dia, visitamos duas turmas: uma do 1. ano e outra do 6, ou seja, início e fim do processo.
Todas as salas tem lousa digital, mas isso deve ser visto como uma parte de um todo que é organizado e funcional. A lousa isolada não faz milagre. Na turma do 1. ano, as crianças estavam usando tablets, com a professora principal e um professor auxiliar de computação. São 12 tablets para a escola toda, então há uma organização de escala para uso. De novo, quero reforçar que não é um equipamento isolado que faz a diferença.
Em alguns momentos, a turma está toda reunida e em outros, é dividida em grupos. Pelo que entendi, a divisão em grupos menores serve para trabalhar de forma mais individualizada com os alunos, no tempo de cada um. Segundo a professora, como é fácil ler em finlandês (é que há uma correspondência única entre as letras e os fonemas, diferente do português ou inglês), ao final do 1. ano, praticamente todos estão lendo.


Como meu filho estuda lá, em um outro dia que visitei sozinho a turma dele, havia um trabalho integrado de música entre os alunos do 6. e do 2. ano. Os mais velhos são "tutores" dos mais novos. Novamente havia duas professoras na sala, a principal e a de música, ao piano.

Na turma do 6. ano, também dois professores, pois estavam usando computadores para fazer uma atividade. Observe a flexibilidade oferecida pelo mobiliário. Diferentes configurações para trabalho em grupo ou individual podem ser arranjadas facilmente.
Nessa sala de aula, há um órgão de tubos, que ainda funciona, herança do seminário.
Perguntei ao professor se havia alguma preparação dos alunos para a próxima escola, a partir do 7. ano. Eles fazem algumas visitas, conhecem a nova escola, professores, se inteiram sobre o ambiente que os acolherá no próximo ano.

E para fechar a parte interna geral, uma foto da sala dos professores, um ambiente agradável, promovendo a socialização nos momentos de intervalo.

Refectory

Every day, children have lunch at school. Todos os dias, as crianças almoçam na escola. Cada uma se serve sozinha e depois de almoçar, devolve seu prato, talheres, copo e bandeja no local adequado.
Refeitório no início da manhã
No dia de nossa visita, havia uma sopa de ervilhas e carne. É comum na Finlândia acompanhar as refeições com leite e pão. Na entrada do refeitório, há o cardápio escrito em finlandês e um exemplo real do mesmo.
Cardápio e prato exemplo.


Aulas técnicas (têxtil e marcenaria)

A partir do 3. ano (isso mesmo, a partir de 9 anos de idade, mais ou menos), as crianças tem 2 horas semanais de aulas de atividades técnicas (costura e afins ou marcenaria). No passado, havia uma certa divisão por sexo, mas atualmente a escolha da atividade, por parte dos alunos, é mais igualitária.

Sala para atividades têxteis
No momento de nossa visita, uma turma estava fazendo uma atividade de tingimento. Segundo a professora, nessa atividade aproveitam para discutir vários temas, como as cores da natureza.
Turma em atividade de tingimento de tecido. O trabalho em tecido com motivo de trens foi feito por alunos da escola

Esse não é aluno da escola, mas nosso colega Carlos posando para foto em uma máquina de costura.

Trabalhos em tecido, realizados por alunos, em exposição em um corredor da escola.


Visitamos também a marcenaria, mostrada a seguir. Além das bancadas das fotos, há máquinas pesadas em uma outra sala que os alunos não tem acesso por questões de segurança.






Turmas de imigrantes

Conversamos com uma professora que atende uma turma de imigrantes. O objetivo nessa classe é acelerar o aprendizado da língua finlandesa, de modo que em um ou dois anos, os alunos já consigam acompanhar as aulas em uma turma regular. Naquela turma havia 5 alunos, de nacionalidades diversas (bandeiras na foto).

Turmas para alunos com necessidades específicas

Há um trabalho bastante intenso com os alunos com necessidades específicas, tendo professores especializados no tema. No momento de minha visita, os alunos estavam almoçando, mas pode haver até 6 professores na mesma sala, trabalhando de forma individualizada com cada aluno.
Conheci o ambiente para alunos com altas habilidades. Atualmente, a escola atende 12 crianças, oferecendo um ambiente bastante agradável, com microscópios, impressoras 3D e outros materiais.



Participação dos pais

Pela opinião do diretor e professores que conversamos, não há muita participação dos pais no dia-a-dia da escola. Isso pode ser interpretado como desinteresse, mas acredito que, como tudo na Finlândia, é mais uma relação de confiança (trust): simplesmente se confia no trabalho da escola e pronto.

Organização geral

A escola atende aproximadamente 700 alunos. As aulas começam às 8h30 e terminam entre 12h15 e 15h15, dependendo das atividades a serem desenvolvidas. Mas pelo que entendi, esse horário de 15h15 é um teto, dificilmente as crianças ficam até o meio da tarde na escola. Ou seja, não há período integral aqui. Ainda sobre a organização do calendário, no ano escolar 2014/2015:
  • no primeiro semestre, outono, as aulas começaram em 01/08 e vão até 20/12
  • de 15 a 17/10, há uma pausa de outono
  • de 21/12 a 06/01/15, há férias de final de ano
  • o segundo semestre, primavera, vai de 07/01/15 até 30/05
  • de 23/02 a 01/03, há uma pausa de inverno
  • mais três feriados nacionais
Total: 188 dias de aula

O orçamento anual da escola é de 5 milhões de euros. Com esse valor, a direção paga a manutenção da escola, o fornecimento das refeições e os salários dos professores e demais funcionários. Pelas minhas contas, isso daria 600 euros/aluno/mês.

Apresentação do diretor da escola
Para se tornar diretor, o candidato deve ter passado pelo curso padrão para professores e também por uma capacitação em gestão. A prefeitura abre um processo seletivo e os candidatos se inscrevem. Após uma bateria de entrevistas, um é escolhido. Não há mandato fixo; enquanto o trabalho for de qualidade, o diretor se mantém no cargo.

A estrutura da escola é enxuta, mesmo com todo o atendimento personalizado que é efetuado.

E para fechar, um vídeo institucional. Eu já aprendi a confiar nesse pessoal daqui e sei que é tudo real, não há maquiagem nem montagem.


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